Este site acaba de lançar um boletim mensal com que Joel Neto fará chegar aos leitores as mais recentes notícias da sua actividade. A publicação pode ser subscrita aqui. No primeiro número, que abre 2019 e antecipa a chegada do livro Só Tinha Saudades de Contar Uma História às livrarias (marcada para esta sexta-feira), o autor faz um balanço de 2018, enuncia os projectos a concretizar em 2019 e republica um texto especial com que, na revista Notícias Magazine, celebrou os 100 anos do Peter Café Sport e, com estes, o cosmopolitismo da cidade da Horta e da ilha do Faial. Eis o texto completo:
«Caro amigo e leitor
Este é o primeiro número do boletim mensal do meu site, JoelNeto.Com. Já lho tinha prometido há alguns meses, mas a escrita, os esforços de divulgação e a vida real atravessam-se imenso no caminho das boas intenções. Conheço os meus leitores: sei que me percebe. Obrigado por não ter desistido.
Começamos agora porque chegámos a um novo ano, mas também porque – e aproveito para o informar – tenho a partir de amanhã novo livro nas livrarias, Só Tinha Saudades de Contar Uma História. A Cultura Editora chama-lhe “um miminho”, e eu gosto da expressão feliz. É um pequeno livro em que revisito um conto que anda comigo há anos para homenagear as memórias de infância e o prazer das pequenas histórias. Um livro intercalar de um género que se fazia muito antigamente, e que infelizmente deixou de se fazer.
Sou todo pela ideia de história, já sabe. As histórias mudaram o mundo. Foi porque aprendeu a contar histórias que o Homo Sapiens se distinguiu do Homo Erectus e do Homem de Neandertal, e também foi porque aprendeu a contar histórias que lhes sobreviveu. Já Meridiano 28, o meu livro anterior, pretende constituir um tributo às histórias, no caso ao poder redentor das grandes narrativas. E o seguinte, A Vida No Campo 2-Os Anos da Maturidade, também o pretenderá.
Contamos lançá-lo ainda na Primavera. Depois das reacções que o primeiro volume produziu, e de que ainda hoje nos chegam ecos, ousamos esperar uma boa resposta da parte dos leitores, nas sessões de apresentação e autógrafos e – sonhar não custa – pelo tempo fora.
Foi um ano excitante, 2018, na verdade o meu melhor de sempre. Apresentei Meridiano 28 por todo o país – do Minho à Madeira e de Lisboa aos Açores – e ainda pude pôr em marcha vários outros projectos. Um deles, a versão teatral de A Vida no Campo, que escrevo a meias com a Catarina Ferreira de Almeida (sim, a minha mulher), chega aos palcos em Março.
Uma das aventuras a que dediquei mais tempo e entusiasmo nos últimos anos foi o projecto As Palavras do Regresso, que conta com o apoio da FLAD-Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento. Eu, a Catarina (outra vez ela) e o Arlindo Horta propomo-nos encontrar a pirâmide da linguagem do regresso a casa, e alguns dos primeiros resultados do projecto já são públicos.
Andámos pelos Açores e pelos Estados Unidos, em entrevistas e gravações. Criámos com o Diário de Notícias um blogue que reuniu muitos milhares de visualizações. Lançámos uma série de crónicas semanais no Diário Insular, obtivemos várias inserções no Açoriano Oriental e agora estamos a tratar da edição do livro (meu e da Catarina) e da montagem do documentário (do Arlindo) em que o projecto se centra, e que também serão lançados em 2019.
Já estamos a candidatar o filme a vários festivais onde gostaríamos de estreá-lo. Dar-lhe-ei notícias sobre isso também. O facto é que 2019 também promete ser um ano vertiginoso – de publicações e de agenda. Eu sei que jurei proteger-me um pouco, mas os convites têm sido tão afáveis e zelosos que só lhes resisto quando é manifestamente impossível corresponder-lhes.
Começo o ano por estar no Correntes d’Escritas, o decano dos grandes festivais literários portugueses. Depois sigo por aí fora: ilha de Santa Maria, ilha de São Jorge, várias das localidades onde se realizam espectáculos da peça A Vida no Campo (já lhe deixei o link da notícia acima) e, antes da rentrée – para que também já tenho deslocações agendadas, nomeadamente à ilha Graciosa, no âmbito dos Colóquios da Lusofonia –, todos os auditórios e feiras do país onde se realizarão apresentações e sessões de autógrafos de A Vida no Campo 2, e em que hei-de aproveitar para assinar também exemplares de Só Tinha Saudades de Contar Uma História.
Grande parte do programa ainda está em preparação, mas não me esquecerei de o informar dele. E, entretanto, ainda falta falar-lhe de um novo e fascinante projecto para que me convidaram, e que me vai permitir conhecer muita gente nova (e dar a conhecer os Açores a muita gente nova) de uma maneira que nunca dantes me tinha ocorrido. Deixe-nos só acertar os últimos pormenores, que depois conto-lhe.
Caso esteja interessado em ir acompanhando o meu trabalho, as informações vão surgindo com regularidade em JoelNeto.Com. O mesmo acontece com os eventos públicos em que vou participando. Já sabe que gosto sempre de o encontrar nos sítios por onde passo – para uma conferência, para uma conversa ou mesmo só para um café de circunstância.
Caso não possa (ou não queira) esperar, ou por alguma razão precise de um autógrafo antes disso, aproveito para lhe dizer que passámos a dispor de uma pequena livraria online no Facebook. Não chega a ser um negócio: é apenas um pequeno esforço para contornar as barreiras da geografia. Também por isso recorre a modelos de transacção algo arcaicos (estou certo de que o compreenderá). Mas tem descontos.
Entretanto, pode continuar a ler-me nos jornais Diário de Notícias, O Jogo, Jornal de Notícias, Açoriano Oriental e Diário Insular, onde publico crónicas diárias, semanais ou esporádicas. Também estou presente nas redes sociais. Mas, já que falamos na imprensa, deixo-o (abaixo) com o início de um texto especial que, mesmo final de 2018, e já após o extraordinário Arquipélago de Escritores, publiquei na Notícias Magazine.
Gostei muito de escrevê-lo. Apetece-lhe viajar um bocadinho?
Um abraço e até breve.
Joel
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TESTEMUNHO
Um café de todo o mundo
O escritor açoriano Joel Neto evoca os cem anos do mítico bar de marinheiros e gin tónico da Horta. No romance histórico Meridiano 28, publicado na Primavera, conta a saga de uma pequena cidade que um dia se viu no centro da luta pela civilização. Já então o Peter era a sua sala de visitas
Foi o António Bulcão quem primeiro insistiu na urgência de eu dar atenção à história do Cabo Submarino. A verdade é que não me apercebi logo do milagre que se ocultava nas suas palavras. “Tens de escrever um livro sobre a Horta do tempo dos cabos submarinos”, disse-me ele. E, como acontecia cada vez mais vezes de há um tempo àquela parte, passei à frente.
Vinha de publicar um romance que, pura e simplesmente, mudara a minha vida. Talvez se pudesse dizer que não fora uma surpresa. Três anos antes, depois de vinte a viver em Lisboa e quinze a trabalhar como jornalista em alguns dos mais importantes jornais e revistas nacionais (Jornal de Notícias e Notícias Magazine incluídos), mudara-me de volta para a minha freguesia natal na ilha Terceira, nos Açores, arrastando comigo uma mulher lisboeta, uma carreira profissional auspiciosa e todo um modo de vida urbano – tudo, em primeiro lugar, para poder escrever esse livro.
Mas fora, realmente, uma surpresa, toda aquela transformação. Com quase uma dezena de volumes publicados em década e meia (e nos mais diferentes géneros), já não esperava propriamente cruzar-me com isso a que chamamos sucesso. Podia sonhar com ele. Podia empreender em sonhos – até em planos mirabolantes – para gozá-lo em pleno. O facto é que poder continuar a escrever, como sonhara na infância, já seria um privilégio, pelo que o melhor era cuidar em primeiro lugar do direito a publicar o livro seguinte.
Talvez por isso o êxito de Arquipélago – desse romance falamos –, com lugar nos tops de vendas durante semanas, sucessivas edições impressas e tocante aprovação crítica, me tenha deixado tão atónito. Só mais tarde, ao olhar para trás, me apercebi de que, bem vistas as coisas, tinha estado a ensaiar aquele livro – trabalhando personagens, acumulando recursos, exercitando métodos – em todos os outros que escrevera, mesmo os de jornalismo. Seria até natural que, enfim, tivesse chegado a algum lado.
Naquele momento, contudo, experimentei primeiro uma sensação de triunfo arrebatadora – e, acto contínuo, aquele medo avassalador a que costumamos dar o nome de peso da responsabilidade. No ano a seguir ainda publiquei o meu diário, A Vida no Campo, mas nem por isso consegui retirar pressão sobre o romance seguinte. Uma vez, qualquer um era capaz. Conseguiria eu fazê-lo de novo? E fazê-lo bem, para aclamação de leitores e críticos?
Era a dúvida que impendia sobre o que tinha de escrever agora. Na prática, o meu segundo romance – o monstro que devora tantos escritores.
Foi então que, como se intuíssem o meu dilema, leitores e amigos começaram a rodear-me de sugestões. “Porque é que não escreve um livro sobre o meu avô?”, dizia um. “Fui emigrante em Inglaterra e gostava de contar-lhe a minha história”, contrapunha outro. Pessoas admiráveis, histórias mirabolantes, paraísos artificiais – apareceu de tudo. E eu ouvia, anotava, pensava, encolhia os ombros. Às vezes achava que podia vir dali um caminho, outras que ele teria sempre de vir algures de dentro de mim. De maneira que…»
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