«Jénifer é uma criança em busca de uma saída e Joel um homem em busca de uma história», conta a sinopse. «O encontro entre os dois dá-se num bairro social dos Açores, a região mais pobre de Portugal, terreno fértil para o abuso sexual e o incesto, o alcoolismo e a violência doméstica, a exclusão social, o tráfico de droga, o insucesso escolar, a pobreza persistente ou o suicídio jovem, entre tantos outros índices de subdesenvolvimento ocidental. Em fundo, uma pergunta: como poderá Jénifer transcender a miserável condição dos pais? Ela tem um plano.»
‘Jénifer, Ou a Princesa da França’, a que o autor chamou «reportagem de ficção» – invertendo a premissa de Truman Capote, explicou em diferentes entrevistas –, é o novo livro de Joel Neto. Integra o catálogo da colecção Retratos da Fundação, da Fundação Francisco Manuel dos Santos (coordenação editorial de António Araújo), e faz o retrato daqueles para muitos, ainda são uns Açores ignorados, uma paisagem humana ausente das fotografias turísticas. «É também uma tentativa de intervenção cívica de um homem só, pregando no deserto da escassez, da exclusão e do conformismo, e clamando por mudança», diz a nota do editor.
Joel Neto explicou as suas motivações numa longa entrevista ao jornal Diário Insular. «O silêncio é cúmplice, e o escritor nunca é cúmplice. O escritor lida com coisas mais complexas do que a espuma dos dias. E o seu supremo juiz é o tempo, não os pequenos poderes, as conveniências pessoais deste ou daquele ou – menos ainda – o statu quo social, ademais quando é injusto», disse. «Eu não vou olhar para trás, ao chegar a velho, e dizer de mim mesmo: “Habituaste-te ao conforto material e aos elogios da sociedade do teu tempo, e calaste-te como um rato.” Nem o meu filho recém-nascido vai olhar para mim e dizer: “Calaste-te como um rato.”»