As crónicas de Joel Neto publicadas no DN já foram transformadas em livro. E agora vão dar origem a uma reportagem radiofónica.
Fernando Alves nunca escondeu a emoção que a leitura das crónicas diárias de Joel Neto lhe provocam. Ampliou algumas passagens de A Vida no Campo aos seus Sinais, na TSF. E, quando as crónicas publicadas diariamente no DN foram vertidas em livro, “implorou” ao autor para o deixar fazer a apresentação – e inundou a livraria do centro de Lisboa com um peculiar tremor de palavras. Foi em maio, e o jornalista da rádio anunciou logo o desejo forte de ligar o gravador na Terra Chã. Chega quatro meses depois à Terceira e fica uma semana com o gravador ligado. Até ao fim do ano, numa quinta-feira de Grande Reportagem da TSF, as gentes da Terra Chã vão ter (outra) voz.
“Não sei o que vai dar. Eu ligo o gravador e ele leva-me aos sítios”, diz Fernando Alves numa torrente de palavras. “Quero ir buscar aquelas criaturas. Gente de carne e osso, a Dona Maria, os vizinhos dele.” O jornalista regressa à sua ilha “preferida”, pela primeira vez com Joel Neto. “É a ilha que visitei mais vezes, sinto-me muito bem na Terceira.”
Ainda na ilha mas quase com um pé do outro lado do mar está o Joel Neto. “Que uma coisa destas possa acontecer vinda de iniciativa dele, do resultado da paixão que tem demonstrado pelos meus textos e pelo modo de vida que eu descrevo não é apenas uma das coisas mais fantásticas que têm acontecido nos últimos tempos, é a mais fantástica que aconteceu com os meus livros”, diz ao DN. “Vai-me permitir perceber se aquelas coisas aconteceram mesmo.” Sorri.
Joel Neto é natural da Terceira mas viveu parte da idade adulta em Lisboa, onde foi jornalista durante duas décadas. Regressou à ilha vai para cinco anos. Era para ser uma estada temporária, de quatro anos, mas Joel ficou. E ficará – admite. Neste retorno, começou a escrever textos diários nas páginas do DN (são atualmente semanais, publicados ao domingo), numa rubrica a que chamou A Vida no Campo. Aqui, em 1700 caracteres diários, ia relatando a toada dos dias a partir do Lugar dos Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã, ilha Terceira, Açores. Em maio, foram compiladas em livro (edição Marcador), organizadas por estações do ano num registo de diário da experiência insular.
Fernando Alves vai voltar a ler o livro. “Quero fazer um grande fresco, na linha do que ele fez, mas com barulho, com respiração, com as senhoras a jogar canasta.” Os relatos de Joel Neto não têm barulho? “Têm”, explode Alves. “Ainda nesta semana tinham barulho!” Diz que quer seguir as pessoas da escrita em que não encontra defeitos e, talvez, acrescentar-lhes mais. Como uma ida ao Galante, o restaurante ocupado pelos oficiais da Força Aérea, na estrada entre Angra e as Lajes, que tem “uma vaquinha no letreiro”.
O escritor não sabe disto. E ainda antes de o saber já dizia ao DN: “Ele pode efabular, pode reimaginar e vai ser fantástico.” Ele que quando se mudou para a casa que foi dos avós na Terra Chã só comprou um objeto: o Roberts, o rádio com wi-fi, para poder ouvir a TSF (estas ondas hertzianas não chegam à ilha).
Na quinta-feira, com um sol esplendoroso, a Terceira despedia-se (temporariamente) do escritor. Joel Neto esperava o avião que o levaria até aos Estados Unidos onde vai fazer uma intensa digressão de dez dias a apresentar A Vida no Campo e o romance Arquipélago (editado em maio de 2015, também pela Marcador) nas universidades de Rhode Island e na Brown, e em várias instituições ligadas aos Açores. Regressa a tempo de fazer de cicerone de Fernando Alves na aventura sonora de A Vida no Campo (e volta a voar para o Brasil, para novas apresentações).
Publicado no Diário de Notícias