Documentário escrito e produzido por Joel Neto e Catarina Ferreira de Almeida, com realização de Arlindo Horta, constitui o segundo andamento do projecto As Palavras do Regresso, iniciado em 2018 com o blogue homónimo. A demanda, que passa pela generalidade das ilhas dos Açores e pelas diferentes geografias da diáspora açoriana nos Estados Unidos e no Canadá (e não só), foi patrocinada pela FLAD-Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento e conclui-se no Outono, com a edição do livro Muito Mais do Que Saudade
Está no ADN dos povos o modo como abordam a viagem, e os açorianos são um povo de viagem. Viajam porque é a viagem o que os separa do mundo. Viajam porque é a viagem o que os separa da sobrevivência. Viajam porque não podem confinar-se, por mais um momento que seja, às fronteiras da ilha – àquela pequenez, àquela escassez. E, no entanto, sucumbem às saudades dela ao fim de dias.
Mas onde está o verdadeiro regresso, afinal? No que regressa de facto ou no que o foi atrasando porque, na verdade, nunca partiu? Dito mais à maneira de Chatwin: onde está o nómada? O nómada é aquele que viaja ou, pelo contrário, aquele que fica? É o que leva a casa consigo para onde quer que vá, ou o que permanece no mesmo sítio a sonhar com a viagem nunca concretizada?
Foi em torno destas e de outras inquietações que Joel Neto e Catarina Ferreira de Almeida escreveram e produziram o documentário O Caminho de Casa. Realizado por Arlindo Horta, cineasta e antropólogo (autor, entre outros, de Tão Perto do Silêncio), o filme foi patrocinado pela FLAD-Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e estreia na noite do próximo sábado, dia 10 de Agosto, na RTP-Açores, media partner do projecto e a celebrar nesse dia o seu 44º aniversário.
Desde Ítaca que o regresso constitui um tema recorrente na grande tradição literária ocidental. Não obstante, a literatura portuguesa, e em particular a literatura portuguesa contemporânea – incluindo o microcosmos da literatura açoriana, produzida em terra de migrações –, tem sido sobretudo uma literatura (e uma cultura em geral) de partida. Dito isto, Joel Neto, Catarina Ferreira de Almeida e Arlindo Horta fizeram as malas e percorreram a generalidade das ilhas dos Açores, diferentes geografias da diáspora açoriana nos Estados Unidos e no Canadá e ainda vários espaços em Portugal continental e na Europa, em busca de sinais de regresso.
Regressos reais e imaginários, bem-sucedidos e fracassados, relutantes e até forçados, mas sempre com as ilhas dos Açores como primeiro referencial geográfico e emocional: são 14 histórias de vida, seleccionadas entre cidadãos anónimos e famosos, de diferentes idades, ambos os sexos e as mais variadas actividades profissionais. Pedro Pauleta, Andreia Silva, Ângelo Garcia, Roberto Lino, Lisandra Sousa e Manuel Bettencourt são alguns dos protagonistas. A montagem é da autoria de Sara Esteves e a pós-produção áudio de João M. Santos. A banda sonora centra-se nas canções de Medeiros/Lucas, de Pedro Lucas e Carlos Medeiros, com letras e João Pedro Porto e outros autores.
«Que papel representa, num contexto assim, a ideia de casa?», questiona-se Joel Neto. «Que casa é essa a que se regressa? Que casas existem? Onde fica a nossa casa durante a nossa ausência? Que género de casa podemos construir nesse outro lugar de onde não somos? E é de regresso mesmo que falamos, ou é outra a palavra adequada? É saudade, o que está em causa, ou é muito mais do que isso? Nisso se tem centrado todo o nosso projecto As Palavras do Regresso. Talvez na esperança de que Thomas Wolfe não tivesse razão quando dizia: You can’t go home again…»
As Palavras do Regresso, de Joel Neto e Catarina Ferreira de Almeida, arrancou em 2018 com o blogue homónimo e diferentes extensões na imprensa, nomeadamente nos jornais Diário de Notícias, Diário Insular e Açoriano Oriental. O Caminho de Casa é o segundo andamento da demanda, que se encerra no próximo Outono, com a edição do livro Muito Mais do Que Saudade, igualmente patrocinado pela FLAD-Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.
A estreia de O Caminho de Casa, filme com chancela Pequod, está marcada para as 22:05 dos Açores (23:05 no continente e na Madeira). A RTP-Açores tem distribuição em todo o território nacional e em todos os principais distribuidores, nas seguintes posições:
- Nos – 189
- Meo – 160
- Vodafone – 175/185
- Cabovisão – 28
A RTP já garantiu os direitos exclusivos do filme para a televisão generalista e poderá reemiti-lo nesse e noutros canais ao longo dos próximos meses. As emissões serão anunciadas à medida que forem programadas.